A História do Rock and Roll

Rock and Roll, uma história social (1996 - 1ª edição), Paul Friedlander.

Rock and Roll, uma história social (1996 – 1ª edição), Paul Friedlander.

Terminei de ler essa semana o livro Rock and Roll, uma história social, do professor norte-americano Paul Friedlander. Ler sobre música é sempre muito bom, e sobre rock é melhor ainda. Então aceitei de bom grado a sugestão de leitura e o generoso empréstimo sem medo de ser feliz.

Entretanto, a primeira coisa que devo dizer é que o subtítulo “uma história social” é enganoso. Ainda que o autor dê umas pinceladas sobre as origens sociais dos gêneros formadores do rock (country, blues, rhythm and blues, gospel), as incursões no tema são sempre superficiais e cada vez mais episódicas à medida que o livro avança, claudicando principalmente ao falar do rock inglês, distante de suas experiências pessoais.

Entretanto, se falha como obra sociológica, o livro funciona muito bem enquanto História do Rock nos Estados Unidos, estendendo-se ao rock britânico por meio das sucessivas invasões às quais o continente americano foi submetido. Friedlander discorre sobre como cada um dos gêneros preexistentes descambaram no chamado rock and roll clássico, destrinchando suas influências sobre cada um de seus protagonistas: Bill Haley, Elvis Presley, Fats Domino, Chuck Berry, Little Richard, Jerry Lee Lewis, Buddy Holly, entre outros.

A partir daí, aborda uma parte dessa história que eu sempre tive a curiosidade de ver organizada de forma didática: o período entre o declínio do rock dos anos 50 e a invasão britânica. Como fã dos Beatles, era mais fácil pra mim compreender esse início dos anos 60 na cena britânica do que na cena americana. Assim, finalmente pude arrumar na minha cabeça como os grupos vocais, do doo-wop aos Beach Boys, o folk e a soul music (e no livro o autor faz uma interessante divisão entre a soul music sulista e o som da Motown) se encaixam nessa história toda.

O livro segue muito bem até a contracultura de San Francisco no final dos anos 60 e o surgimento da guitarra como objeto de culto, talvez por compreender o período no qual percebe-se um envolvimento afetivo de Friedlander (integrante de grupo de doo-wop na juventude) com a cena musical da época.

A partir dos anos 70, o que antes era um gênero musical gerando ramificações bastante distintas vira um conjunto de estilos socados dentro de um mesmo pacote. Em vez de esmiuçar as características e história de cada estilo, heavy metal, hard rock, punk, rap, new wave e até a MTV são liquidificados num jornalismo rasteiro, como se estivessem sendo citados por mero dever de ofício. Não é a toa que os 20 primeiros anos do rock ocupam 14 capítulos do livros, enquanto os quase 20 anos seguintes ocupam apenas três. Por isso não tenho tanto interesse de ler a edição atualizada, que engloba o grunge e a indústria musical pós-Napster (a edição original é de 1996, mas não chega ao Nirvana).

Há também algumas ausências que só podem ser explicadas por implicância pessoal. Nos anos 50, fala generosamente dos Everly Brothers mas ignora a existência de um cantor/compositor chamado Johnny Cash, que participava ativamente do “circo” composto por Elvis e Cia. Não citar The Doors ao falar da contracultura californiana pode ser justificável pela opção por centralizar nas bandas surgidas em San Francisco, como Grateful Dead e Jefferson Airplane. Mas não mencionar sequer a existência de uma banda chamada Queen, ao falar do rock pesados dos anos 70, e de outra conhecida como U2, é simplesmente inexplicável. O autor fala do Live-Aid e cita diversos artistas participantes sem mencionar Queen e U2, considerados os dois principais momentos do festival. Fala do surgimento de artistas nos anos 80 que trazem um discurso mais politizado e da turnê da Anistia Internacional, e mais mais uma vez deixa de citar os irlandeses. Friedlander cita Salt-n-Peppa mas não o U2, que é mencionado apenas num apêndice de referências discográficas.

Outro problema do livro (na verdade, mais do autor do que propriamente do livro, por não chegar a ser um estorvo para quem o lê) é a falta de foco. Em termos temáticos, o foco é sempre o rock. Mas a abordagem varia. Aquilo que se propunha a ser uma história social do rock e se revela uma história do pop/rock americano (ou melhor, do pop/rock nos EUA) muitas vezes vira uma coletânea de mini-biografias. Quando se trata de um artista cuja vida e carreira é desconhecida para o leitor, o interesse se mantém. Mas quando se trata de um artista cuja história é conhecida, a tal mini-biografia, até pela necessidade de síntese, não traz nenhuma informação adicional. Imagino que tal desvio de rota se dê pela força gravitacional que exerce bandas como Beatles, Rolling Stones, Who, Led Zeppelin, tornando o ímpeto de biografá-las irresistível. Mas Friedlander deveria ter resistido a elas e se mantido fiel ao biografado principal: a própria música.

Rock and Roll, uma história social (2006 - 2ª edição), Paul Friedlander.

Rock and Roll, uma história social (2006 – 2ª edição), Paul Friedlander.

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2 Comentários em “A História do Rock and Roll”

  1. Tiago Says:

    Gostei muito da review. Apesar dos aspetos menos positivos, fiquei com vontade de ler o livro só pelos nomes dos protagonistas. Parabéns pelo blog! 🙂

    • cheibub Says:

      Obrigado, Tiago. A ideia não era mesmo desestimular ninguém a lê-lo, muito pelo contrário. Acredito que a expectativa na medida certa até ajuda a gostar mais da leitura. Os pontos altos compensam com sobras os pontos baixos.


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