Archive for the ‘Cartola’ category

Top 30 – 1970/1979 (5ª parte)

09/07/2013
Cartola (1974).

Cartola (1974).

Em 1974, aos 65 anos, o compositor Cartola gravou seu primeiro disco solo, graças à iniciativa da independente Discos Marcus Pereira. Ressaltar o papel da gravadora é mais do que justo, pois a produção é brilhante. O álbum passa a impressão nítida de estarmos em uma roda de música descontraída, ouvindo com rara nitidez cada instrumento, cada detalhe do arranjo.

De certa forma, faço uma injustiça em elencar apenas este, deixando de lado a sua sequência, gravada em 1976, também conhecida como O Mundo é um Moinho. Difícil é separar um do outro, pois, para mim, funcionam como um álbum duplo não declarado. Como se o Led Zeppelin tivesse lançado os dois discos de Physical Graffiti separadamente. Aliás, talvez essa hipotética separação do Led me convencesse mais como dois álbuns apartados do que essas duas obras-primas de Cartola.

Essas gravações me fazem recordar aquelas de Billie Holiday rodeada por bambas do jazz, sem excessos, sem redundâncias sonoras. Uma aula de samba.

Corra e olhe o céu, só o áudio.

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Terra Incognita (1975), Congreso.

Terra Incognita (1975), Congreso.

Congreso é uma banda chilena que teve seu debut em 1971, com um som que me lembra muito o rock mineiro dos anos 70, com muita leveza, poesia e dedicação instrumental. Com o golpe militar em 1973, o lançamento do segundo álbum foi adiado por mais dois anos.

E assim nasceu Terra Incógnita (é assim mesmo, “terra”, e não “tierra”), um álbum que combina alegria e amargura. Uma fusão, talvez, da euforia jovem dos anos Allende com a depressão pós-golpe. Assim como nossos compositores, a saída para continuar a carreira em solo chileno foi lançar mão de metáforas e versos herméticos.

Em termos de sonoridade, a diferença foi substancial, tornando-se o disco menos rock do que o anterior e do que os álbuns seguintes. Na verdade, tirando algumas intervenções de guitarra e a linda canção que fecha o disco, Canción de Reposo, que muito me remete a Secos & Molhados, trata-se de música popular, com toques de música andina e jazz. É um disco único e sublime na discografia do grupo (ainda em atividade), que chegou se enveredar pelo o rock progressivo no final dos anos 70, com discos conceituais e instrumental de fôlego.

Vuelta y Vuelta ao vivo em 2003, já tão velhinhos…