Se fosse fazer hoje o meu Top 20 – 2000/2009, certamente faria duas alterações, incluindo Eco, de Jorge Drexler, e Automatic Imperfection, da banda espanhola Marlango. Coincidência ou não, a vocalista da banda, Leonor Watling, é atualmente esposa de Drexler, com quem teve dois filhos. Eco é de 2004. Automatic Imperfection é de 2006. Em 2005, Drexler se separou de sua primeira esposa e passou um período de crise passeando na desplugada vila de Cabo Polônio. As aventuras de Drexler por lá deram origem a 12 Segundos de Oscuridad, faixa-título de seu álbum de 2006, no qual Leonor participa na canção El otro engrenaje. De lá pra cá, dobradinhas do casal são frequentes, seja em estúdio ou no palco. E outra curiosidade: a principal atividade de Leonor é como atriz, atuando, inclusive, em filmes de Pedro Almodóvar. Drexler, por sua vez, depois do álbum de 2006, lançou apenas um de inéditas em 2010. Ainda que não tenha descuidado dos shows, parece investir na carreira de… ator – seu filme acaba de estrear por aqui.
Automatic Imperfection (2006), Marlango.
Automatic Imperfection é daqueles discos do qual não se joga nada fora. Nos quatro primeiros álbuns, Leonor, filha de inglesa com espanhol, canta principalmente em inglês. A banda segue forte influência de jazz, blues e da música pop em geral. O álbum abre com Shake the Moon, que remete a um clima de inferninho jazz. Segue com uma balada blues, Days are tired. Daí em diante é um festival de belas canções, muito bem tocadas e cantadas, como Twiested & Sick, I don’t care (cuja versão stripped nos extras da Special Edition é de arrepiar), Automatic Imperfection (com uma perturbadora introdução de teclado de filme de terror), Pequeño Vals (lindíssima, com um assovio contagiante, que, apesar do título, é em inglês), Architeture of Lies. Entre os extras, Vete, uma belíssima canção romântica em espanhol que ficou por vários dias na minha cabeça.
Vídeos de Automatic Imperfection e Shake the Moon.
Eco (2004), Jorge Drexler.
Jorge Drexler teve uma sorte e tanto. Tornou-se internacionalmente conhecido no momento em que lançava seu melhor disco da carreira. A afirmação, a princípio, parece óbvia… se uma coisa tivesse a ver com outra. A razão do sucesso foi uma música composta pro filme Diários de Motocicleta, Al otro lado del río, que acabou ganhando o Oscar de melhor canção original. Os organizadores da festa de premiação preferiram chamar Antonio Banderas e Carlos Santana pra apresentar a canção. Drexler, ao receber a estatueta, “discursou” a canção a capella.
A música, todavia, não fazia parte do disco, sendo incluída num relançamento em 2005. E sequer é uma das melhores do álbum. Eco é um desfile de grandes canções, que deslumbra e arrebata a cada faixa. Poesia, ritmo, melodia e até mesmo os arroubos eletrônicos tão caros ao uruguaio – tudo flui perfeitamente como clássicos prontos para serem cantados e repetidos pela plateia anos a fio. A contagiante (e Lavoisieriana) Todo se transforma, a lírica Salvapantallas, Guitarra y Vos com meu refrão favorito (hay tantas cosas, yo sólo preciso dos: mi guitarra y vos), Milonga del Moro Judío (No hay doctrina que no vaya / Y no hay pueblo que no se haya / Creído el pueblo elegido), o tango-pop de Se va, se va, se fue. E, claro, todo o resto do disco.
Todo se transforma e Salvapantallas ao vivo no Teatro Solís, em Montevideo.