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Thick as a Brick in Iceland

21/11/2015
Thick as a Brick Live in Iceland

Thick as a Brick Live in Iceland (2014), Ian Anderson.

Quando você passa o dia em casa de cama, acaba aproveitando para fazer coisas ousadas, como assistir ao show do Thick as a Brick na íntegra. Confesso que até encontrar este DVD do Ian Anderson na Islândia eu não fazia ideia que ele tinha lançado um Thick as a Brick 2.

Sim, Ian Anderson, não Jethro Tull. Numa boa entrevista nos extras do DVD, ele conta que decidiu usar o próprio nome para escapar das expectativas de ter de soar como um Deep Purple com flauta. Ao se apresentar como um artista solo, ele se sente mais livre para experimentar. Faz sentido. Não que o som de Thick as a Brick 2 traga grandes inovações. Infelizmente, na entrevista ele só fala sobre a inspiração do Thick as a Brick original, sem explicar muito sobre as ideias do segundo. Mas vamos ao show…

A primeira constatação é que Ian Anderson está velho. Um tanto óbvio, certamente, mas me refiro à capacidade vocal e a energia necessária para ser o mestre de cerimônias por duas horas de espetáculo. Carisma ainda lhe sobra bastante, mas, desde que ouvi o Aqualung Live (apresentação do álbum na íntegra, gravado em 2004), percebi uma certa frieza na execução das músicas, uma falta de pegada. O carisma pessoal certamente disfarça um pouco isso, mas se alguém ouvir só o CD provavelmente irá notar. Só quando pega a flauta é que passado e presente se fundem. Aí é pura magia.

Anderson conta com a ajuda de um jovem vocalista, Ryan O’Donnell, que dá um toque teatral ao espetáculo, que ainda tem algumas imagens projetadas no telão de fundo e uma divertida participação de violino via Skype.

Dito isso, devo fazer uma outra confissão: nunca tive muita paciência para ouvir Thick as a Brick na íntegra. Ouvi, claro, mas sempre acabava “voando” em algum ponto do álbum. Entretanto, assistindo ao show, pela primeira vez percebi a impressionante dramaticidade da obra, como Thick as a Brick se presta a um espetáculo tipo Broadway com luzes e imagens. Mas, infelizmente, não era essa a proposta do autor, embora seja possível vislumbrar um esboço disso no palco. A produção, na verdade, é bem simplesinha.

O líder do Jethro Tull reproduz com incrível fidelidade a turnê original de 1972, com as mesmas piadas atualizadas para os novos tempos. E são boas! Particularmente a interrupção do celular e a bem humorada campanha para o exame de próstata. Verdadeiramente novo, só as novas (e curtas) canções. Estas se arrastaram para mim mais do que os 50 minutos de Thick as a Brick. Não que o novo disco seja ruim (pelo contrário, é bem agradável), mas a sonoridade é um pouco repetitiva, e isso depois de mais de uma hora de show… Além disso, a obra é mais centrada no texto: são cinco possíveis versões para o que teria acontecido com Gerald Bostock, o garoto (personagem ficcional) que seria o autor do poema no qual haveria sido baseado o Thick as a Brick original (Ian Anderson deve estar realmente obcecado com seu personagem prodígio, pois seu álbum solo mais recente, Homo Erraticus, seria uma nova obra de Bostock). Tudo isso, dentro de uma concepção mais teatral, poderia ficar bem interessante. Mas, curiosamente, a segunda parte do show é mais centrada na música do que a primeira, que explora um pouco mais o lado dramatúrgico.

Lamento muito que as legendas do DVD só sirvam para a entrevista dos extras, que também inclui (sem legenda) uma jam de gaita e flauta em Someday the Sun won’t shine for you com o homem por trás do Montreux Festival, Claude Nobs, que veio a falecer poucos meses depois. Uma bonita homenagem. Segundo o próprio Nobs, tinha sido a primeira vez que subira ao palco como performer.

Um pequeno trecho de Thick as a Brick  e Banker bets, Banker wins, do novo repertório.