I do not want what I haven’t got (1990), Sinéad O’Connor.
Relacionamento com a ex-carequinha Sinéad O’Connor nunca é fácil (que o diga o último marido dela). Eu já tinha me empolgado com o primeiro disco. Quando apareceu I do not want what I haven’t got, chorando no clip de um cover do Prince, Nothing Compares 2 U, como resistir? Nem eu, nem o pessoal do Grammy.
Mas aí ela começou a não deixar cantarem o hino americano antes dos shows dela, a rasgar o retrato do Papa em talk show, e, o pior de tudo, gravar, no auge do sucesso, um anti-comercial álbum de covers, com canções como Don’t cry for me Argentina e How Insensitive (Insensatez, de Tom e Vinícius). Com a antipatia de parte do público e sem um sucesso bombando nas paradas pra sustentar suas excentricidades, ficou fácil jogar a carecuda no limbo.
Depois de reencontrá-la, mais de 10 anos depois, no bom DVD The Year of the Horse, num show de 1991, resolvi saber o que ela andava fazendo. Comecei com a coletânea So far… The Best of Sinéad O’Connor (1997), e logo em seguida lançaram Collaborations (2005), que reunia seus trabalhos com vários artistas: U2, Massive Attack, Peter Gabriel, Moby, Asian Dub Foundation, entre outros.
Ouvindo seus trabalhos mais recentes, encantei-me com sua sofisticação musical. Ainda que sua vida pessoal continuasse uma quizumba, artisticamente ela havia atingido a maturidade. Então, em 2009, lançaram a versão remasterizada de I do not want what I haven’t got.
Poder ouvir novamente esse álbum, que há séculos não escutava, com tamanha qualidade, me fez ver que Sinéad já era, em 1990, uma grande artista. Feel so different, I am stretched on your grave (figurinha fácil em seus shows), The Emperor’s New Clothes, The Last Day of Our Acquaintance… todas grandes canções, muito bem tocadas, arranjadas e interpretadas.
Não conta pro Top 20, mas essa edição especial vem com um disco bônus que tem como destaque uma ótima versão de Mind Games, de John Lennon.
E ainda tem fotos dela tão novinha, tão bonitinha…
The Emperor’s New Clothes ao vivo em 1991.
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Bossanova (1990), Pixies.
Pixies, ao menos por aqui, era apenas mais uma banda alternativa que fazia parte de uma coletânea onde se destacavam bandas como Throwing Muses. Participava com Here comes your man. Então, mais uma vez, veio o Nirvana…
Kurt Cobain, certa vez, humildemente declarou que tudo o que estava tentando fazer era soar como Pixies. Por essas e outras que a banda só fez sucesso depois que acabou, após 4 discos e 1 EP.
Entre bons (mas irregulares) discos, destaco Bossanova, que considero o mais homogêneo, com canções como Velouria, Blown Away, Allison, All over the world e Stormy Weather.
Atualmente a banda se encontra novamente reunida como cover de si mesma. Os fãs pouco se importam, pois, ainda hoje, suas músicas soam frescas.
Até ter dinheiro pra correr atrás dos CDs da banda, tudo o que tinha era uma coleção espremida em uma TDK 60, que gravei de uma amiga que tinha a coleção completa em CD. E foi esse o repertório que me acompanhou por cerca de 10 anos (um tanto óbvio que as 5 canções supracitadas estavam nela). A fita ainda existe… e toca!
Estranho vídeo para Allison (e com legenda errada).
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Shake your money maker (1990), The Black Crowes.
Não me lembro o que veio primeiro: esse disco (comprado com um vale presente na falecida Hi-Fi) ou o sensacional show do Black Crowes no Hollywood Rock, abrindo para o magnífico show de Plant & Page (certamente este está entre os melhores shows da minha vida).
Olhando os discos que deixei de fora, fico até intrigado. Afinal, são artistas de quem gosto mais e não tiveram um disquinho sequer contemplado nesse Top 20. Mas em nenhum momento tive dúvidas que de que Shake Your Money Maker entraria. Ao escutá-lo novamente, só confirmei essa impressão.
Desde a primeira audição, fiquei apaixonado pelo álbum, do início ao fim. E é um sentimento que se renova cada vez que o escuto. Lembro que, na época, o disco de adoração era o The Southern Harmony and Musical Companion, que veio em seguida. Mas, pra mim, nada supera os acordes iniciais de Twice as hard abrindo o disco e o cover de Otis Redding, Hard to Handle.
Numa época em que ouvia The Doors na veia, tudo o que queria era uma banda atual que tocasse um bom blues-rock setentista.
Twice as hard ao vivo em Colônia, Alemanha, 1992.
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Gostaria de agradecer, novamente, a Beck, Belle & Sebastian, Ben Harper, PJ Harvey e Pato Fu por terem feito esta década discograficamente mais interessante. E agradecer também ao Afghan Whigs, Caetano Veloso, Cowboy Junkies, The Cure, Electrafixion, Eric Clapton, Fiona Apple, Loreena McKennit, Oasis, Patti Smith, Paul McCartney, Peter Gabriel, Radiohead, Skank, Yo La Tengo e a Ry Cooder e todos os músicos cubanos do Buena Vista Social Club.
Até os anos 80!