Minha irmã e meu sobrinho entraram numa vibe de banda covers. Até que faz sentido: o meu sobrino não teve a oportunidade que nós tivemos de ver muitas bandas ao vivo. Eles já foram no Pink Floyd e no The Who, e meu irmão no Dire Straits e Elvis. E então ela me falou desse tal de Queen Extravaganza.
Nunca tinha ouvido falar e nem tentei me informar. Estava tão arrependido de não ter ido no show com o Adam Lambert que comprei no escuro, buscando ser surpreendido com o que ia encontrar. Só sabia que a banda era produzida pelo Brian May e Roger Taylor. Como o show seria no Municipal, até pensei que fosse algo no estilo rockestra. Mas não…
No fundo do palco, a imensa logo da banda. À frente, os instrumentos típicos de uma banda de rock. Nada de orquestra.
Então eles entram na penumbra, cabeludos. Seria o próprio Brian May? Então entra o baterista, que com certeza não era o Roger Taylor. Bem, é cover mesmo…
E aí entra o resto e a banda manda logo “One Vision”. Beleza, som bom, limpo, digno dos ingleses. E aí o vocalista me manda um “boa noite” muito bem articulado. Pensei: “este fez o dever de casa”. E aí mandou um “muito obrigado” sem sotaque. Será latino? E aí, antes de “Fat Bottom Girls”, começa a falar em português direto. Pow… o cara é brasileiro, meu!
Resumo da ópera (com trocadilho, por favor): o projeto Extravaganza foi montado pelo pessoal do Queen para ser a banda cover oficial do grupo. Junto com o tecladista Sipke Edney, que põe mais a mão na massa, eles mesmos selecionam e dirigem musicalmente a banda. Parece que ela existe desde 2011.
Nas turnês, o baterista americano Tyler Warren, que toca junto com Edney no Queen principal, atua como diretor musical. Outro americano, Brian Gresh, é o guitarrista. Tyler protagoniza um solo de bateria excepcional e Brian consegue tirar da guitarra o mesmíssimo som que seu xará.
Completam a banda o baixista canadense François-Olivier Doyon, mais discreto, assim como John Deacon (mas parecendo ter saída de uma banda cover do Metallica), o tecladista inglês Darren Reeves e o vocalista brasileiro Alírio Netto.
Alírio não tenta imitar Freddie Mercury, e foi orientado a não fazê-lo, o que é um ponto positivo do show. Fica claro sua formação no heavy metal. Eu comentava com a minha esposa que ele me lembrava o André Mattos, do Angra. E não é que eu descubro que ele já cantou com o Angra, e também com a banda Age of Artemis! Seu início de carreira foi no musical “Jesus Cristo Superstar”, e chegou ao Extravanganza por meio da produção brasileira do “We Will Rock You” em 2016.
Feitas as devidas apresentações, vamos ao show…
O repertório é bem greatest hits. Uma exceção é “Stone Cold Crazy”, levada por Tyler, que também canta outras músicas. Outra foi “Need your loving tonight”, só cantada na turnê do “The Game”. Ou seja, nada de surpresas. Acredito que “Spread your wings” se encaixaria muito bem na voz de Alírio, uma pena. Algumas funcionam melhor do que outras, mas todas são muito bem executadas. A plateia demorou um pouco pra esquentar (Municipal, né…), mas a coisa acabou pegando fogo.
E aí, ao perceber essa característica vocal da banda, intuí o que vinha pela frente: “Bohemian Rhapsody” ao vivo na íntegra. Dito e feito! Pô, nem a banda original bancou isso. Uma coisa é fazer isso num musical, outra numa banda de rock com cinco caras. Eu me arrepiei e quase fui às lágrimas.
Enfim, um puta show!
Um destaque é que todos cantam. Guitarrista e baixista, mais discretamente. Mas é interessantíssimo como eles se preocupam em reproduzir os arranjos vocais do disco ao vivo, coisa a qual nem o Queen com o Mercury se dedicava com tanto afinco.